José Rocha
Se você não é cabocão,
sessentão e morador do centrão, talvez não entenda a relação entre o título
deste texto e o seu conteúdo. Mas eu vou mostrar que há, sim, uma ligação
lógica e poética entre eles.
Eu nasci e cresci no centro
de Manaus, a parte histórica da nossa cidade, onde tudo começou e terminou,
entre glórias e tragédias.
Eu sou da época em que a
maioria das pessoas morava no centrão, mesmo que já existissem alguns bairros
mais distantes. Eu me lembro que na minha infância a minha cidade terminava no
Boulevard Amazonas, e que o “fim do mundo” era o Balneário do Parque 10, o V-8,
a Ponta Negra, a Ponte da Bolívia e a Cachoeira do Tarumã. O resto era
floresta.
No Centrão, ficavam quase
todos os bancos, as lojas, os eventos sociais, as repartições públicas, os
clubes de futebol e suas sedes. Era lá que rolavam as festas e as
manifestações, as alegrias e as revoltas, as conquistas e as perdas.
Eu sou da época em que não
havia internet, celular, redes sociais, computador pessoal, YouTube, Spotify,
TV Smart, nada disso.
Eu sou da época da máquina
de escrever, do ábaco, do papel carbono, do retroprojetor, das cartas simples e
seladas enviadas pelos correios, do disco de vinil, do toca-discos, do rádio a
pilha, da calça pantalona, da festa do acocho.
Depois, vieram o cartão
magnético, o fax, a impressora matricial, a fita cassete, o disco CD, o celular
tijolão, e por aí vai.
Eu vi o Teixeirão destruir
parte do centrão, com os ricos preferindo morar em condomínios de luxo.
Eu vi os pobres fazerem
queimadas e invasões, dando origem a vários bairros nas periferias.
Eu tive o privilégio e a
angústia de presenciar e vivenciar toda essa transformação da minha cidade, com
mudanças profundas no modo de viver e sentir a cidade, nos hábitos, nas
tecnologias, no crescimento desordenado, nas desigualdades sociais, na zona
norte e leste e até nos programas de TV que mostravam quanto mais sangue,
melhor.
Por ver todas essas
mudanças, eu me tornei um saudosista e comecei a escrever sobre a minha cidade,
a minha infância e adolescência.
Alguns jovens gostam de me
criticar, dizendo que “quem gosta de coisa antiga é museu”. Eu acho que o museu
é quem gosta de mim, pois eu sou frequentador assíduo das bibliotecas e dos
museus da minha cidade. Eu adoro ler jornais antigos, além de fotografar e
filmar o nosso Centrão para fazer comparação.
A pedido do meu filho mais
velho, eu fui morar na zona norte, com a intenção de ter uma melhor qualidade
de vida, pois segundo ele, o Centrão estava degradado e violento.
Eu passei cinco anos da
minha vida morando por lá, num lugar que antes era mata virgem desmatada pelos
tratores para abrigar o aumento desenfreado da população.
Por lá eu conheci muitas
pessoas, fiz amizades e inimizades, também, pois alguns não gostavam das minhas
histórias que eu contava da minha vida no Centrão.
Eu os respeitava, pois eles
não tinham histórias para contar, a não ser os mais velhos que vieram do
Centrão para morar naquele torrão.
Eu e meu filho fomos e ainda
somos parceiros em negócios, desenvolvemos vários projetos de vendas ao
consumidor, o que me deu oportunidade de conhecer praticamente toda a zona
leste, norte e oeste.
Recentemente, eu soube que o
governo do Amazonas inaugurou um sistema rodoviário chamado “Rodoanel”, mais
conhecido por “Rapidão”, que permite ao cidadão sair do Distrito Industrial 2 e
chegar “rapidinho” na AM-10 ou pegar a Ponte Rio Negro e ir para Iranduba, no
Calderão.
Eu pensei: “Caramba, eu
conheço tudo isso como a palma da minha mão, eu posso sair do Centrão, onde eu
nasci, e andar por todos esses lugares sem precisar de um Google Maps da vida
para percorrer o Rapidão!”
Engraçado, eu conheço muitas
pessoas do Centrão que não sabem nem onde fica o Rapidão. Por outro lado, eu
conheço, também, muitas pessoas que moram perto do Rapidão e não gostam dele,
pois dizem que ele trouxe mais poluição, barulho e violência para a região.
Eu acho que o Rapidão é uma
metáfora da minha vida, uma mistura de nostalgia e modernidade, de passado e
presente, de centro e periferia, de velocidade e lentidão, de progresso e
destruição.
Eu sou do Centrão, mas
também sou do Rapidão. Eu sou um viajante no tempo e no espaço, uma testemunha
da história e da geografia da minha cidade, um contador de histórias e um
criador de memórias.
Observação: O texto foi de minha criação, no entanto, contei com a ajuda e correção do Microsoft Bing + ChatGPT, ou seja, da Inteligência Artificial.