Ele nasceu em berço de
ouro, pois o seu pai era um rico empresário, dono da fábrica de instrumentos de
corda “Bandolim Manauense”, situado na Rua dos Barés, centro antigo de Manaus,
porém, com a falência do seu genitor, tornou-se um morador de rua, fazendo a
sua casa as escadarias de pedras de Lioz, da Igreja Nossa Senhora dos Remédios.
Teve uma infância farta, morava
numa bela casa, era bem vestido e alimentado - em companhia dos pais e os seus irmãos,
passeava de bonde nos finais de semana – tomava banhos no Parque Dez de
Novembro – brincava no “Aviaquario”, adorava as retretas na Praça da Polícia e
assistia as missas na Igreja dos Remédios.
O seu pai, o Senhor
Nascimento, adquiriu os conhecimentos de luteria, a arte de fabricar
instrumentos de cordas, de portugueses que moravam no entorno do Mercado
Municipal Adolpho Lisboa, tornando-se um empresário exitoso, permitindo-lhe ter
uma boa vida, frequentando o Ideal Clube, um grêmio destinado a classe média
alta da pequena cidade de Manaus.
Um dos seus funcionários,
o José Rocha, entrou na empresa ainda muito jovem, na condição de aprendiz,
porém, demonstrou desde cedo um dom excepcional para trabalhar com instrumentos
musicais.
O Rocha foi encarregado de
levar e buscar, todo santo dia, o Adelelmo Nascimento, no Colégio Dom Bosco –
os dois tornaram-se amigos e, conversavam muito durante o trajeto – foi uma
amizade para toda a vida.
O Senhor Nascimento começou
a participar dos jogos de cartas, um evento diário que acontecia no Ideal Clube,
sempre regado ao consumo de bebidas caras e de charutos cubanos – tornando-se
um jogador inveterado.
Essa prática perniciosa
levou a falência da sua empresa, além de ser obrigado a vender todos os seus
bens para pagar as dívidas advindas do jogo – houve a desestruturação da sua
família – por ser maçom, foi morar de favor no prédio de uma maçonaria do
centro.
O luthier Rocha foi
trabalhar por conta própria e o seu amigo Adelelmo virou morador de rua, levando
a vida de esmolê - apesar de todas as adversidades na vida que os dois
passaram, nunca deixaram de serem amigos.
O Adelelmo, na sua velhice,
resolveu morar nas escadarias da Igreja dos Remédios, onde fez uma casinha de
papelão e plástico, ficou obeso e teve problemas de saúde, dificultando a sua
locomoção – recebendo a ajuda dos padres, fiéis, moradores e comerciantes da
área – mesmo assim, tornou-se agressivo, jogando água e urina nas pessoas que
se aproximavam.
A igreja onde o Adelelmo resolveu se aboletar para o resto da vida, segundo os historiadores, foi construída em 1868, erguida sobre um cemitério indígena, foi
tombada em 1988, como patrimônio histórico do Amazonas - ela é rodeada por
escadarias de pedras portuguesas de Lioz; na parte detrás, ainda aparecem os trilhos
dos bondes que deixaram de circular em Manaus na década de 50.
Certo dia, o seu amigo
Rocha, foi fazer-lhe a sua última visita, pois já se encontrava com idade
avançada e bastante enfermo – foi em companhia do seu filho mais novo.
Um ficou sentando dentro
da sua casinha de papelão e o outro dentro do carro, os dois começaram a
conversar, lembraram-se dos velhos tempos – o Rocha deixou uma quantia em
dinheiro para o amigo e, seguiu o seu caminho – tempos depois, os dois amigos
faleceram. É isso ai.
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