Por José Rocha
19/01/2023
A Villa “Ninita” é um dos poucos prédios remanescentes de meados da década de 1910, localizado na Rua Municipal, 154, atual Avenida Sete de Setembro, 1546, anexo ao Centro Cultural Palácio Rio Negro, abrigando, atualmente, salas da Secretaria de Cultura e Economia Criativa – SEC e o Cine Teatro Guarany, um prédio que guarda muitas histórias.
O Jornal do Commercio publicou
o seguinte classificado (ineditoreas): “Manaos, sábado, 27 de novembro de
1915 – Villa Ninita – Rua Municipal, 154 (junto ao Palacete Scholtz) – Devendo ficar
concluídas até o fim do corrente mez as 10 magnificas casas de sobrado que se
compõe esta VILLA. Aceitam-se desde já pretendentes para as mesmas. As casas tem
duas salas no 1º andar, duas salas no 2º andar, cozinha e área, banheiro e
sentina, sendo o modico aluguel de cada R$ 100$000. A tratar com H. PERDIGÃO
& CO., Rua Deodoro, 61-63”.
A empresa H. Perdigão &
Co., fundada em 1896 (mesmo ano da inauguração do Teatro Amazonas e da Primeira
Ponte) eram procuradores dos principais proprietários e capitalistas do
Amazonas, encarregada da administração geral de bens (cobrança de alugueis,
juros, venda e compra de prédios, construções, reparos de prédios e
inventários).
O termo “Villa” é do Latim,
significando casa de campo, casa grande, quinta (atualmente, somente designamos
com um L). Já o nome “Ninita” é diminutivo feminino singular de “Nina” (Nana,
Ninar, Menina), ou seja, é a Villa Menininha. Não sei informar se é em homenagem a
uma criança da família dos donos que era chamada de Ninita, pois até hoje ainda
encontramos muitas mulheres com o apelido de Ninita que carrega desde quando era
criança.
Em 1915, a cidade de Manaus estava
passando por momentos difíceis, pois tinha acabado o “boom” da borracha (1912),
muitos seringalistas e empresários estavam falidos, perderam quase todos os
seus bens. A empresa acima citada a construiu com um bom padrão, pois
surgia naquela época uma demanda por parte de pequenos comerciantes e
funcionários públicos que não possuíam capital para alugar uma casa de maior
padrão e optavam por este tipo de moradia “Villa”, grafia antiga, bem diferente
dos operários que moravam em “Estâncias” (casas de madeiras, cortiços).
O que mais chama atenção é o número de janelas e portas. São vinte janelas na parte superior e mais 20 detrás, além de mais 10 janelas e 10 portas na parte debaixo (frente) e 10 portas atrás), sem contar com mais 4 janelas na primeira casa (frente para a Sete de Setembro).
A cidade de Manaus sempre foi quente por ficar próxima a Linha do Equador, em decorrência disto as casas possuíam muitas janelas para amenizar o calor. Apesar do ar condicionado ter sido inventando em 1920 nos USA, pelo Carrier, somente chegou ao Brasil em 1950, tornando-se popular, em 1970, com os de janela e split no ano 2000.
Na casa de número 9, morava
o Major e ex-Prefeito de Itacoatiara (1947), o Francisco Trigueiro Sobrinho e sua
esposa Maria Emília Trigueiro, onde completaram “Bodas de Ouro” (50 anos de
casado), em 1957.
Na casa numero 2 morou o casal Paulo de Oliveira Onety (o melhor jogador de todos os tempos do Amazonas) e Maria Iris Dutra da Silva Onety (professora do Barão do Rio Branco), onde criou a sua prole de nove filhos, dentre eles o meu amigo e ex vizinho do Conjunto dos Jornalistas, o Advogado Alberto Onety. Ele, assim escreveu no Facebook: "Nessa vila moravam 10 famílias onde se relacionavam como uma autêntica família. E ocorriam eventos dos mais inusitados e uma das reminiscências era o dia em que o governador Gilberto Mestrinho distribuía brinquedos nas datas comemorativas. Lembranças inesquecíveis".
Muitas dessas “Villas” perduraram até os dias atuais: Vila Georgette (Lauro Cavalcante), Ercília e Carmem (Joaquim Nabuco), Baependi (antiga Itália, na 24 de Maio), Fátima (Saldanha Marinho), Tuma (José Paranaguá), Rezende (Alexandre Amorim), Pedrosa (Rotary), Paraíso (13 de Maio/Getúlio Vargas), Martins (Leonardo Malcher, demolida) dentre outras.
Em 1943 houve uma Reforma Ortográfica,
não havendo mais a obrigatoriedade da grafia original em Latim, em decorrência disto,
os jornais da época começaram a publicar anúncios diversos, incluindo a oferta
de emprego para “Empregada para Serviços Leves” na “Vila Ninita” (sem o l
dobrado, em latim). Depois, houve um outro Acordo, em 1971, voltando a grafia a
ser Villa “Ninita”, pois é um nome próprio.
Além de ser um local
destinado a moradia, serviu para várias finalidades:
a. Casa
de Leilão “Ao Correr do Martelo” (bons móveis e objectos de uzo domestico),
Casas nos. 3/4/10, a partir de 1918;
b. Escritório
de Políticos, Casa 2, 1955;
c. Cine
Clube Umberto Mauro (hoje Cine Guarany), Auditório “Kilde Veras”, 1984;
d. Comissão
de Inquérito Administrativo, Sala de Imprensa, Assessoria para Assuntos
Internacionais, do Governo do Amazonas, 1987;
e. Gabinete
do Vice-Governador Vivaldo Frota, 1990;
f. Secretaria
de Assistência Social, Maria Emília Mestrinho, 1993;
g. Coordenação
de Recursos Humanos, 2000;
h. Espaço
de Referência Cultural, 2000;
i. Cine
Teatro Guarany (cap. 90 pessoas, palco com 48 m2, filmes, música, teatro,
cursos, seminários e palestras), 1999;
j. Secretaria
de Cultura, Turismo e Desportos (atual Secretaria de Cultura e Economia
Criativa), 2001;
k. Museu
de Numismática Bernardo Ramos, 2004 (transferido para o Palacete Provincial);
l. Pinacoteca
do Estado do Amazonas, 2004 (transferido para o Palacete Provincial).
O prédio da “Villa Ninita”
completou, em 2022, cento sete anos de sua inauguração, guardando muitas histórias.
Ao seu lado existiam outros prédios, presume-se que eram da mesma data, no entanto, foram demolidos para a construção do portão principal do Parque Jefferson Peres, na Ponte Romana II.
Faz parte da minha infância
e adolescência, nunca adentrei ao seu recinto, passando por lá quase todo "santo dia", mas, por possuir muitas
histórias e recordações, pretendo ir ao Cine Teatro Guarany para assistir a um filme e visitar pela primeira vez o seu interior.
Fontes:
Jornal
do Commercio
Manaus
Sorriso
Blogdorocha
https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/ninita
https://pt.wikipedia.org/wiki/Formul%C3%A1rio_Ortogr%C3%A1fico_de_1943
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