José Rocha
Parte I
O Zé estava passando por
momentos difíceis em sua vida, financeiramente, é claro! A solução foi partir
para a nova onda, ser motora de aplicativos e espantar a fase para baixo
“down”. A primeira exigência foi ir ao Detran-Am para incluir em sua habilitação
o EAR (que exerce atividade remunerada). Após passar por este trâmite foi até o
escritório da Uber, fazer o cadastro, baixar o aplicativo e contratar uma
internet banda larga. O problema maior do Zé Mundão foi conseguir um carro
simples! Por não dispor de tal veículo, o jeito foi conseguir um alugado na
MOVIDA, uma empresa que disponibilizava, na época, um carro do ano por apenas
cinquenta reais a diária. No entanto, o coitado teve de recorrer a um parente,
pois a dita cuja exigia o pagamento no cartão da diária mensal, além de deixar
certo valor como forma de garantia para eventuais problemas com o veículo. Tudo
certo, o momento era de partir para a guerra e ganhar muita grana. O Zé para
não dar bobeira, resolveu assistir a dezenas de vídeos no Youtube para entrar
no mercado com o pé cheio! Depois de dois dias parado, resolveu entrar em campo
no terceiro dia. O primeiro cliente foi um desastre total! Ficou tão nervoso
que não conseguia manipular corretamente o aplicativo e fez uma corrida
“grátis”. Ficou mais dois dias estudando a fera, além de conversar com alguns
colegas uberdrives mais experientes. Nesta altura do campeonato, foram cinco
dias “parado”, ou seja, duzentos e cinquenta pagos sem nenhum retorno! No sexto
dia, lavou o carro, colocou revistas e balas de mangarataia para os clientes,
som ambiente e a pedido do cliente, ar condicionado ou vento na cara a depender
do pedido, muito gentileza e etecetera e tal. Depois de tudo isto, o Zé jamais
iria imaginar que a grande maioria de seus clientes o achavam com cara de
paizão, o tio, o velho, com cara de psicólogo, falavam e falavam de seus
problemas e pediam conselhos. Cara, o Zé queria era mesmo faturar nas corridas,
mas, tudo valia, inclusive ser conselheiro, motivador, deixar o passageiro
falar de suas angustias, ideias e ensejos, depois, buscar no fundo do baú de
seus conhecimentos acadêmicos e de suas leituras diárias, para deixar o cliente
mais calmo, sereno e confiante no passo adiante. Foram dezenas de figuras e
situações, no entanto a mais engraçadas foram as seguintes: 1. Jogador de
Futebol Americano – o carro do Zé era um Nissan March (pronunciava “marte”), um
pequeno por fora e grande por dentro. Ao atender a um pedido no bairro de São
Francisco, entra um “monstro” e uma senhora de meia idade. O camarada colocou a
sacola no porta mala e bateu com uma força descomunal, a senhora entrou pela
porta traseira e foi logo pedindo desculpas. O grandão entrou ao lado do
motora, colocou o banco mais para trás, e por incrível que pareça ficou
folgado, sem forçar com as pernas contra o porta-luvas. O destino foi a Arena
da Amazônia, onde um grupo de amigos gostavam de jogar o tal futebol americano,
onde a força e a compleição física são levadas em conta. O grandão parecia uma
criança mimada - a sua mãe “falava que nem a preta do leite” e dava ralhos e o
cara somente respondia: - Poxa, mãe! Caramba, o Zé ficava ouvindo àquela
situação engraçada, mas não podia rir, pois seguia à risca o manual do Uber. 2.
O Filhinho da Vovó – Na “ZL” o Zé foi buscar um cliente no Hospital Platão
Araújo – entra um jovem com a cara amarelada. Começou a falar: - O senhor não
sabe da maior (sic) a minha avó acaba de falecer, não sei o que fazer, estou
indo para casa para buscar ajuda dos meus vizinhos, pois moro com a minha avó
desde que nasci, fui abandonado pelos meus pais. Ela possui dezenas de casas
alugadas e um comércio de estivas e muita grana no banco. Estou meio tonto, não
sei como tocar os seus negócios, pois sou o seu único herdeiro e apenas sou um
estudante! O Zé pensou “Caralho, esse jovem está com a faca e o queijo na mão,
herdeiro de uma grana preta, está que nem um cachorro que cai da mudança,
enquanto isso, estou aqui na maior lisura, na busca de um troco – aí se eu
fosse pai desse cara, estava numa boa! 3. O Paraense Indeciso – No centro da
cidade o Zé foi buscar um cliente com destino ao Boulevard Amazonas. O cara só
em falar “bom dia” o Zé pensou logo “É paraense!”. O camarada começou a falar:
- Senhor, eu sou de Belém do Pará, tenho negócios lá na área de camarão e
resolvi abrir uma filial em Manaus, estou progredindo muito, mas o problema
maior é a minha noiva, ela não gosta nem um pouco de Manaus, acha uma cidade
muito quente e insossa, voltou para Belém e tomou uma decisão, ou eu fecho a
loja em Manaus e volta para a nossa cidade ou caso contrário adeus casamento? O
que o senhor me aconselha? O Zé Mundão em sua sabedoria, falou-lhe: - Meu
jovem, faz o seguinte: Continua em Manaus, progride, abre mais filiais, começa
a frequentar o Bar da Loura “ETBAR”, pega umas primas no Remulo´s, come
Jaraqui, curte o Bar do Armando e o Caldeira, toma banho na Ponta Negra e na
Praia da Lua, vive a cidade de Manaus e ESQUEÇE A TUA NOIVA PARAENSE! 4. O
Estudante de Auto Escola – O Zé foi buscar um cidadão na Redenção, era um jovem
que entrou todo apressado, pois estava atrasado para sua aula. Começou a olhar
como o Zé passava as marchas, as freadas, segurava o volante, dava sinais para
a direta e esquerda, a velocidade nas vias, o uso da buzina etc. O camarada era
um chato, sabia “de cor a salteado” as normas de trânsito, dando “picica” a
cada cem metros! Antes de chegar no destino, o Zé perguntou: - O jovem deve ser
instrutor de autoescola, não é mesmo? O camarada respondeu: - Não, sou apenas
um aluno, conheço toda a legislação, mas ainda não sei dirigir! O Zé pensou
“Vai te fuder sêo leproso, vá dá picica na casa caralho!” Não falou alto, pois
tinha de obedecer aos manuais do Uber. 5. Zé Na Bocada - O Zé recebeu um pedido
para uma rua paralela a "Estrada dos Franceses", o GPS o levou para
uma rua errada - ao adentrar, notou algumas pessoas correndo, achou meio
estranho, mas continuou até notar que estava num "beco sem saída",
abaixou o vidro direito e falou com um senhor: - Estou perdido, me ajude! Ele
respondeu: - Saia daqui agora, os traficantes pensam que é um carro disfarçado
de polícia! O Zé deu uma ré feito um louco, voltando sã e salvo para as Estrada
dos Franceses, depois dessa, nunca mais aceitou corrida para aquela área! Não
foi a primeira nem a segunda vez, o GPS do Zé o levou para outras bocadas e
locais barra pesada, saindo ileso de todas elas, mas com o forever sem caber um
cabelo!