O PRIMEIRO BOI VOADOR DE MANAUS
José Rocha
Após um exercício mental, voltei ao fundo de minha memória, revivendo um causo, narrado pelo meu saudoso amigo, o compositor e cantor Afonso Toscano.
Guardadas todas as proporções do evento e "O Enfeite do Maracá" do escritor, foi mais ou menos assim que aconteceu.
Era uma bela noite manauara de um sábado junino caliente:
O miolo do boi do Garrote Luz de Guerra, do saudoso Maranhão, era um negão que trabalhava nos Correios, considerado o melhor do pedaço lá das bandas do "Mato Tinha".
Num belo sábado em que "o urubu voava com uma assa e se abanava com a outra", o tripa “secou” todas os botecos do bairro, não se aguentava em pé, imaginem dançar embaixo do boi!
Naquele dia, o boi se apresentaria na Bola da Suframa.
O miolo ( ou tripa, tanto faz como tanto fez em Manaus ou Parintins) foi tratado com bastante água de coco, sucos, banhos de cacimba, sono reparador e Sal de Fruta Eno.
Melhorou bastante, dava para o gasto e o gosto.
Toda a turma foi à pé para o festival. No caminho, o negão começou a tomar umas batidas de maracujá, não deu outra: voltou o porre.
Quando chegaram ao local da apresentação, estava no palco o grupo folclórico "A Tribo dos Andirás".
O miolo aproveitou o tempo de espera para tomar mais uns goles.
O Paulo Gilberto, eterno apresentador do festival, fez a chamada:
- Eee aaagoora com vooocês, é ele, é ele, é ele, ooo Gaarrrrooote Luuuuzzz de Gueeeerrrra!
Fogos estourando, a noite virando dia, tambores rufando e a galera delirando!
Todos os componentes subiram a rampa do Tablado, que era feito de madeira, na forma cilíndrica e com três metros de altura.
O miolo foi ajudado pelos colegas, ficou bem no meio da arena, não conseguiu manter o boi em pé e resolveu dormir embaixo do Luz de Guerra, em plena apresentação.
O Amo do Boi foi acordá-lo. Deu umas bicudas no boi e gritou:
- Acorda negão, acorda negão! Movimenta! Gira! Dança! Porra! Faz alguma coisa caralho!
O negão se levantou, girou com o boi e correu direto, passou do Tablado, voou uns três metros e meio, foi direto para o chão!
Foram "cacos" para todos os lados do boi e do negão.
Desde então, o "Boi Luz de Guerra" passou a ser chamado, pela galera como “O Primeiro Boi Voador de Manaus!”
Pense numa fuleiragem!
É isso ai.