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sábado, 7 de maio de 2011

ADELSON, O MAU ELEMENTO.


Este termo não está mais em voga, atualmente, os jovens chamam de “bad boy” ou galeroso, significando uma pessoa de índole duvidosa e mau caráter; o Adelson foi um colega de infância, morava no Igarapé de Manaus, tinha a fama de ser um mau elemento, era o brigão da rua, bronca era com ele mesmo, não levara desaforo para casa, quando enfrentava o “Nego Mau”, o bicho pegava, saia faísca para todos os lados. O meu irmão Rocha Filho era amigão do peito do Aldenor, irmão do Adelson. Certa vez, foram os três comprar pão na Padaria Frankfort, na Avenida Joaquim Nabuco, o lance era o seguinte: as pessoas faziam fila no caixa, após o pagamento, recebiam uma notinha contendo o valor da compra e a relação dos produtos, depois do atendimento, o funcionário dava uma rubrica no documento. Ao chegar ao estabelecimento, o Adelson deu de cara com um ticket zeradinho jogado no chão, na maior foi até o balcão e, recebeu cinco quilos de pães, dois pacotões de biscoitos e dois de bolachas, colocaram no lombo e correram pela Rua Lima Bacuri, entraram pela Rua Dr. Almino, quando estavam chegando na Ponte Cabral, foram alcançados pelo Sr. Matias, o dono da padaria, ele tinha descoberto que aquela mercadoria já tinha sido atendida em duplicidade, correram em disparada, passaram por debaixo da Primeira Ponte, jogaram os pães numa pocilga e correram para casa, chegando lá, deram de cara com o Sr. Matias, ai o bicho pegou, o pai de Adelson teve que pagar a conta, imaginem a surra que os dois irmãos pegaram, o Rocha conseguiu se safar. Pois é, o caboclo do Adelson pegou a fama, tudo que acontecia de ruim na rua, a culpa era sempre imputada ao Adelson, o mau elemento do Igarapé de Manaus. Mudei de rua e fui morar na Vila Paraíso, tinha apenas doze anos de idade, perdi o contato com o Adelson, depois de seis anos voltei a encontrá-lo, foi ser o meu colega de trabalho, era o nosso primeiro emprego, graças à ajuda de um vizinho, chamado Hélio, ele conseguiu emprego para muitos jovens do Igarapé de Manaus, a empresa era a Central de Ferragens, localizada na Rua Marechal Deodoro, centro de Manaus, trabalhavam no ramo de construção e ferragens. Pois bem, quando cheguei por lá, o Adelson já tinha experiência de um ano no ramo, ele ficou responsável em passar alguns conhecimentos de cobrança e faturamento, antes, ele tentou me batizar, na maior cara dura falou que quando eu chegasse de um dia cansado de trabalho na rua, deveria me dirigir a uma sala, onde poderia desfrutar de um ar condicionado Carrier, beber água mineral Perrier, importada da França, tomar café com leite e detonar bolachas e biscoitos importados, era tudo da melhor qualidade, os copos eram de cristais e as xícaras de porcelana, saboreava todo aquele manjar na maior, notava algo estranho, pois os meus colegas não faziam o mesmo, eles ficavam olhando e cochichando o tempo todo, num belo dia, fui surpreendido com um grito do Sr. Isaías: - Caralho, o que estaire a fazeire aqui, ô moleque? Por ser safo, me sai direitinho: - Estou apenas lavando os copos e as xícaras! Ele não gostou: - Fora daqui, não quero nenhum funcionário dentro do meu gabinete! Cruz, credo, o Adelson armou para cima de mim, o local era a sala do dono da empresa, um português brabo no balde! Quando sai de lá, todos estavam rindo da minha cara, não deixei passar em branco, fiz o mesmo com outro boy novato. Eu tinha uma missão de entregar aos clientes um documento chamado “aviso de cobrança”, rodava a cidade toda de ônibus, certo dia, o Adelson me aconselhou: - Rocha deixa de ser leso, pega o dinheiro da passagem e me repassa, agente faz as entregas junto na minha moto, coloco gasolina na “setentinha” e ainda vamos merendar no Aeroporto de Ponta Pelada, o que não der para entregar, agente rasca e joga no lixo! O lance foi assim por um bom tempo, depois, fui chamado no “saco”, o Hélio descobriu a parada, o mau elemento do Adelson fazia a entrega de todos os avisos dele, quanto aos meus, a metade ficava “boiando”, eram exatamente os que eram rasgadas, entrei mais uma vez pelo cano! Fomos promovidos para “Cobrador de Duplicatas”, o Adelson era o líder, separou as novinhas para ele e mais antigas para mim, ele falou que eu teria que mostrar para a Diretoria que era um bom profissional, tinha que mostrar serviço, cobrar e receber aquelas duplicatas consideradas impagáveis, caso conseguisse, iria receber uma bela comissão e poderia até ser novamente promovido para trabalhar internamente no setor de faturamento, recebi dele algumas aulas de como ser um cara-de-pau, como falar em público, ser persistente, não desistir nunca e como ganhar alguém no papo; quando estava “preparado” entrei em campo, o primeiro foi um escritório de engenharia, o dono tinha um papo de derrubar avião, contava piadas, me servia guaraná com bolachas, chorava miséria, sempre ficava para amanhã o pagamento, resolvi montar acampamento na entrada da empresa dele, passei duas semanas em encalço do pilantra, o cara se enjoo da minha cara, fiz uma negociação com ele, dividi em parcelas, todo mês ele pagava religiosamente, tornou-se meu amigo e quitou a divida; o outro cliente inadimplente era um dentista, o consultório ficava num edifício da Rua Henrique Martins, toda vez que eu chegava lá, o cara se trancava e me dava chá de cadeira, um dia eu tinha dormido de cabeça pra baixo, resolvi dar umas bicudas na porta do dentista, o cara saiu voado, correu atrás de mim, gritava e gesticulava: - Moleque, filho de rapariga, eu vou te pegar e dar umas porradas e ainda vou pedir pro Hélio dar a tua conta! Depois de uma semana, voltei a cobrar novamente, todo dia batia na porta dele e corria, certo dia, resolvi encarar a fera, ele abriu a porta e mandou ver: - Porra, de novo, tu é muito chato! Vou pagar esta merda só prá não ver mais a tua cara! Mais dois pontos. O próximo era um cara que trabalhava no almoxarife do Hospital da Beneficente Portuguesa, pense num cara escroto, ele prometia dar pancadas em todo mundo da Central de Ferragens, o primeiro a apanhar foi eu, ele me pegou pelo pescoço, tomou a duplicata e rasgou todinha em pedacinhos, dei parte dele na direção do hospital, ele pegou uma tremenda chamada e foi suspenso, consegui receber o valor da duplicata na secretaria do hospital. Pelo meu desempenho e ajuda do Adelson, consegui a promoção, fiquei mais um ano, depois, fui trabalhar nas Lojas Populares, enquanto o Adelson continuou aprontando na Central, pegou o beco e nunca mais tive notícias dele. Fiquei sabendo que ele constituiu família, tornou-se uma pessoa de bem, um homem probo, se aposentou e está curtindo as praias de Fortaleza, cidade que escolheu para morar. Espero um dia ainda encontrá-lo e lembrar das nossas travessuras de infância e adolescência. É isso. 

Um comentário:

  1. Anônimo5:40 PM

    Oi espectacular assunto , adorei muito, penso que poderiamos tornar-nos blog palls :) lol!
    Aparte de brincadeiras chamo-me Liam, e assim como tu escrevo na internet se bem que o tema do meu espaço é muito distinto do teu....
    Eu estudo websites de poker que falam de poker gratis sem arriscares do teu bolso......
    Apreciei bastante aquilo li aqui mais uma vez
    Virei aqui mais vezes
    Ps:tenho um portugues ruim.

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