O jornal Diário do Amazonas, edição de 28/07/2009, publicou uma artigo intitulado “AMAZONÊS – Dicionário valoriza a cultura cabocla”, achei muito interessante e, resolvi publicar algumas expressões populares utilizadas pelos amazonenses, constantes no site www.sergiofreire.com.br.
O caboco Sergio Augusto Freire de Souza é amazonense de Manaus, professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Mestre em Letras pela própria UFAM e Doutor em Lingüística pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Vai aí uma pequena mostra do trabalho do Sergio Freire; quem se interessar mais pelo assunto, deve acessar o sitio acima ou então visitar a comunidade ´Amazonês´ do site de relacionamento Orkut.
A
A COMO? loc. adv. – Quanto custa? “A como tá o tucunaré?” “R$ 10 a enfiada”.
A LA VONTÉ exp. id. – Como queira. “Se quiser ir embora, a la vonté! E já vai tarde!”
A PERIGO loc. adv. – 1 Sem dinheiro. “Paga o lanche pra mim, cara, que eu tô a perigo”. 2 Muito tempo sem manter relações sexuais. “O Amaro está a perigo. Está pegando até velha desdentada”.
A PRÓPRIA loc. adj. – A tal, a boa, a melhor. “A Ana Paula comprou um perfume francês e chegou aqui se sentindo a própria”.
A PULSO loc. adv. – Forçado, obrigado, na marra. “Comendo sem gosto… Parece até que está comendo a pulso”.
A RETALHO loc. adv. – No varejo. “Compra um real de cigarro na venda do Zé. Ele vende a retalho, o que é bom para fumante liso como eu”.
ABACABA s. f. – 1 Palmeira que dá frutos oleosos e comestíveis para vinho ou mingau. 2 Mentira. “O Paulinho tava lá contando a maior abacaba. Ele disse que pescou na linha cento e vinte jaraqui numa manhã”.
B
BABÃO s. m. – Puxa-saco. “Esse Mota é o maior babão que eu conheço!”
BABA-OVO s. m. – Ver Babão.
BABAU s. m. – 1 Punição que um grupo confere a alguém por um malfeito. Todos batem com as mãos, ao mesmo tempo, na cabeça do indivíduo. “Fez besteira. Vai levar um babau por isso!” Ver Sabacu 2 Prejuízo total, perda irrecuperável de alguma coisa. “Pagou serviço adiantado prum marceneiro? Tu é leso, é? Aí é babau, mano. É dinheiro perdido!”
BABITA s. f. – Dinheiro, grana. “E aí? Pegou a babita lá?”
BABUGEM s. m. – Resto de comida. “Cheguei tarde. Acabou a comida. Só tem babugem na panela”.
BACABA s. f. – Ver Abacaba.
BACABEIRO s. m. – Ver Abacabeiro.
BACIO s. m. – Urinol.
BACULEJO s. m. – Batida policial com revista geral. “A PM adora dá um baculejo na galera da Zona Leste”.
C
CABA s. f. – Espécie de vespa cuja ferroada produz dor e febre. “Não joga bola aí porque tem uma casa de caba bem nessa árvore”.
CABAÇA s. f. – Recipiente usado para armazenar ou transportar água.
CABAÇO s. m. – O hímen. “Essa aí tem cara de que já perdeu o cabaço”.
CABAÇUDA adj. – Virgem.
CABEÇA-DURA adj. – Teimoso, que ninguém consegue fazer mudar de opinião.
CABIDELA s. f. – Cozido de galinha feito com o sangue da ave, dissolvido em vinagre.
CABIMENTO s. m. – Sentido. “Essa história de viajar sozinha com o namorado não tem cabimento”.
CABOCA s. f. – Mulher. “Aí nós fomos pra festa ver se a gente arrumava umas cabocas pra passar a noite”.
D
DADAU s. m. – Mingau de mamadeira.
DADO adj. – Alguém de fácil trato. “Eu gostei da tua mãe. Gosta de um papo, né? Ela é muito dada”.
DANADO adj. – Endiabrado, malcomportado. “Esse menino não sossega. Égua do menino danado!”
DANÇA DE RATO E SAPATEADO DE CATITA loc. v. – Enrolar, postergar algo. “Deixa de dança de rato e sapateado de catita e vai logo tomar banho que é melhor”.
DAR A CARA A BOFETE exp. id. – Apostar. “Dou minha cara a bofete se ele trouxer o que ele prometeu”.
DAR AS CARAS exp. id. – Aparecer. “Fiquei esperando a noite toda e ela não deu nem as caras”.
E
…É APELIDO exp. id. – É pouco. “Tu viste a cabeça do Fábio? É grande, né?” “Grande é apelido. Aquilo ali é uma cabeça gigante”.
…E MEIA! exp. id. – Mais do que… “Se ela é chata, tu és chata e meia”.
E EU LÁ SABIA… exp. id. – Expressão para eximir-se de culpa. “E eu lá sabia que essa cerveja era da festa? Bebi sem saber…”
É FOGO! exp. id. – Muito bom ou muito ruim. “Cuidado com esse menino que ele é fogo!”, “Prova essa pimenta. Ela é fogo. Melhor que qualquer uma”.
E OLHE OLHE! exp. id. – E olhe lá. “Ele só faz dois abdominais e olhe olhe”.
Ê, CAROÇO! Exp. id. – Usada quando alguém se safa por pouco de uma situação complicada. “Vai bater! Putz! Ê, caroço! Foi por pouco…”
ÉGUA! interj. – Égua pode ser usado em várias situações. Tomou um susto: “égua!” Alguém faz algo que você não entendeu: “égua…”. Uma situação estapafúrdia? “Éééguaa, maninho…”. A entonação faz parte do sentido.
F
FACADA s. f. – Pedido de dinheiro. “O cara não trabalha e vive de dar facada nos outros”.
FACHO s. m. – Animação. “Baixa o facho porque a gente não vai poder sair hoje, não”.
FACULTÁRIO adj. – Quem faz faculdade. “Ele trabalha de dia e de noite ele é facultário”.
FALAR DE BARRIGA CHEIA loc. v. – Falar sem razão. “Tu falas de barriga cheia! Pelo menos tu tens onde dormir e o coitado, que perdeu tudo com a enchente”.
FALSIPAR s. f. – Malária muito violenta.
FANTA adj. – Sem graça, fraco. “Esse filme é muito fanta. Me arrependi de ter vindo”.
FARDA s. f. – Uniforme escolar. “Não vai sujar tua farda, Gilvaney! Só tem essa!”
FARINHA s. f. – Raiz da mandioca triturada e secada até fazer grão ou farinha grosseira. Se come com tudo.
FARINHA-D’ÁGUA – Tipo de farinha fina.
FAROFA s. f. – Farinha preparada com manteiga, gordura ou, às vezes, ovos.
FAROFA-DO-CASCO s. f. – Farinha-d’água assada no casco da tartaruga após a retirada dos ovos, vísceras e carne.
FAROFEIRO s. m. – Contador de histórias.
FAZENDA s. f. – Ver Corte.
FAZER A CAVEIRA loc. v. – Falar mal de alguém. “Ela não gosta de mim. Sempre que puder ela vai fazer a minha caveira”.
FAZER HORA loc. v. – Passar o tempo. “Vou à livraria fazer hora. Depois te pego”.
Segundo o autor “...se cada variante do português espalhada por esse país imenso tem sua nuance é porque também tem sua história particular. E a variante falada no Amazonas tem a sua. Os termos indígenas na linguagem da região são bem marcantes, como igarapé, igapó e bubuia. A linguagem dos soldados da borracha, nordestinos que para cá migraram no fim do século XIX, deixou sua marca, como catinga, abestado e de lascar. O chiado do português de Portugal se manteve no s final da pronúncia dos amazonenses.
Por tudo isso, é bobagem disputar a naturalidade dos termos. O que podemos afirmar é que todos são termos do português brasileiro que, pelo capricho dos movimentos da história, resolveram aparecer e se fixar aqui ou ali. Assim, o dicionário de Amazonês vai certamente trazer marcas, por exemplo, de um cearês por conta do encontro lingüístico dos tempos da borracha. Essas fronteiras lingüísticas são muito tênues e móveis. Estar neste pequeno dicionário não batiza a palavra como amazonense, mas a naturaliza como cidadã do maior estado do país porque ela faz sentido na linguagem dessa região..”.
É isso aí "cabocada"! Estou "vazado" de fome, vou matar a "broca" lá no Largo , antes terei que dar uma "facada" em alguém - vou comer um "Kikão maceta" ou um "X-Kaboquinho" com "Guaraná" até ficar "empachado"!
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