Ao escrever sobre a Rua Marechal Deodoro e o prédio do J. G. Araújo, lembrei dos sapateiros e engraxates que ficavam na Avenida Eduardo Ribeiro, ao lado Pag & Lev. Com o incêndio do prédio, foram deslocados para o Largo da Matriz, entre a Avenida Sete de Setembro até a entrada do antigo Aviaquário. Até com os engraxates praticamos a fidelidade; faz décadas que procuro os serviços de um senhor, nunca perguntei o seu nome; enquanto ele faz a meia-sola (coisa de pobre!) conversamos sobre diversos assuntos, sem saber o seu nome de batismo ou apelido!
O mais tradicional sapateiro de Manaus chamava-se Oscar, morador da Rua Igarapé de Manaus, executava os seus serviços na Rua Lobo Dàlmada, além de ser o bamba na sua profissão, era também um campeão de pesca de Tucunaré; uma vez o homem pegou até um Peixe-espada (Trichiurus lepturus), uma raridade no Rio Amazonas, pois é peixe de água salgada.
Um caso de chocou Manaus na década de 70, foi quando o empresário Figueiredo, proprietário da Pensão Maranhense e do lupanar Verônica (hoje Millennium Center), seviciou e matou o engraxate Walderglace.
Atualmente, os engraxates não são privilegio somente dos marmanjos, até as mulheres estão entrando no mercado de trabalho. Atendendo aos novos preceitos do marketing, encontramos jovens engraxates, vestidos de paletó e gravata, na Praça do Caranguejo, no Eldorado, zona centro sul de Manaus. Por sinal, o Sebrae/Am possui um projeto chamado “Pés com Sapatos Brilhantes”, ministrando cursos de Excelência em Liderança (ELI) para garotos que vivem em situação de risco social em Manaus.
Quem freqüenta o Largo de São Sebastião, conhece o engraxate Sebastião Queiroz, conhecido por Tim Maria, o cara é polivalente: além de polir o “pisante” dos bacanas, faz uns biscates no Bar do Armando e no Salão Brasil, vende pipocas, é gari da Tumpex, empresta money para muito nego surubim (liso, mas cheio de pinta!), além de ser considerado o engraxate oficial de alguns membros do judiciário.
Vai uma engraxada aí tio? Apenas um real! Com a crise que ora atravessamos, com certeza meia-sola não será mais coisa de pobre, a profissão estará em alta!